sábado, 22 de dezembro de 2012

A Fé, ou Explicação do Credo dos Apóstolos Capitulo 4


















A Fé, ou Explicação do Credo dos Apóstolos¹
[1536] Agora é fácil entender, graças ao que foi tratado no livro anterior, quais deveres o
Senhor exige de nós em sua lei. Lembremo-nos de que, se falharmos no menor ponto, ele
manifestará a sua ira e o seu terrível juízo, condenando-nos à morte eterna. Além disso, ele
declarou que, não somente é difícil aos homens o cumprimento da lei, mas também que
essa é uma coisa que está acima das suas forças. Porque, se levarmos em conta somente a
nós mesmos, considerando o que merecemos, não nos restará sequer uma gota de boa
esperança, mas, sim, um desespero mortal, uma vez que somos totalmente rejeitados por
Deus.
Mas depois ficou demonstrado que existe um meio, um só, de evitar essa calamidade, a
saber, a misericórdia de Deus, contanto que a recebamos com uma fé segura e firme e que
nela descansemos com inabalável esperança.
1. A natureza e o fim da fé
[1539] Cabe-nos agora explicar como deve ser essa fé, por meio da qual todos quantos o
Senhor escolheu para serem seus filhos entram na posse do reino celestial. É sabido e
notório que nenhuma opinião ou persuasão, que não proceda de Deus, seria suficiente para
gerar tão grandioso bem. É necessário que nos dediquemos com o mais diligente empenho
a procurar conhecer a verdadeira natureza de fé, pois vemos hoje em dia quão perniciosa é
a ignorância generalizada sobre este assunto. Porque, em sua grande maioria, os homens
entendem que a fé é uma simples e comum credulidade, com a qual eles dão assentimento,
ou seja, mostram uma aceitação superficial da narrativa do evangelho. Esse mal, como
tantos outros numerosos males, deve ser atribuído aos sofistas e a certos mestres da
Sorbonne. Esses tais, além de diminuírem o valor da fé pela obscura e sombria definição
que dela fazem, arranjando uma frívola distinção entre a fé formada e a fé informe,
atribuem o título de fé a uma opinião vã e vazia do temor de Deus de toda piedade. Toda a
Escritura contradiz esse fátuo conceito.
2. Impugnação da falsa definição, com base na natureza da fé
Disponho-me a impugnar a definição deles declarando simplesmente a natureza da fé
como demonstrada pela Palavra do Senhor, pela qual se vê claramente como eles falar e
falaram sobre isso, mas de maneira confusa e sem espírito. A distinção que eles fazem não
vale uma pitanga! Porque, embora concedamos, para fins didáticos, que existem duas
espécies de fé, quando queremos mostra que tipo de conhecimento de Deus é o dos ímpios,
todavia reconhecemos e confessamos com o apóstolo Paulo que os ilhós de Deus só têm
uma fé.
É verdade que [1536] muitos crêem que só existe um Deus e que o conteúdo do Evangelho
e da Escritura é verdadeiro. Mas crêem nisso baseados no mesmo critério com que estão
habituados a julgar como sendo verdade o que se lê nas histórias e o que os olhos vêem.
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[1539]Há outros que vão além, pois têm a Palavra de Deus como um oráculo indubitável,
não menosprezam nenhum dos mandamentos, e de algum modo são sensibilizados pelas
promessas. Dizemos que as pessoas desse tipo não estão sem fé; mas falam de maneira
imprópria, porque não impugnam com manifesta impiedade a Palavra de Deus, e não
rejeitam nem a desprezam, mas têm alguma aparência de obediência.
[1536] Todavia, como essa sombra ou imagem de fé é nula e não tem nenhuma
importância, tampouco merece o nome de fé.
[1539] E embora logo vejamos mais amplamente quanto esse tipo de fé difere da
verdadeira, não fará mal fazemos um breve demonstração.
3. Simão, o mágico, e os tipos de terreno improdutivo
Diz a Escritura que Simão, o mágico, creu [At 8.13], ma ele manifesta pouco depois a sua
incredulidade. Não entendemos, com alguns, que esse testemunho de fé é só de palavras,
dé fingida, sem nada no coração. Entendemos, antes, que, cativada pela majestade divina,
a pessoa ajusta esse tipo de fé, de modo que, reconhecendo Cristo como o autor da vida e
da salvação, de voa vontade o aceita como tal.
Nesse sentido, o Senhor diz, em Lucas, capítulo 8 (Lc 8.13), que os que “crêem apenas por
algum tempo” são aqueles nos quais a semente da palavra é sufocada e os frutos não
vingam, ou seca-se a tenra planta e se perde, sem fincar raiz. Não temos dúvida de que eles
sentem gosto pela palavra, recebem-na de boa vontade e são abalados pelo seu poder, ao
ponto de, em sal hipocrisia, enganarem não somente os homens, mas também o seu
próprio coração. Porque eles se persuadem de que a sua reverência apara com a palavra de
Deus é a piedade mais verdadeira que eles podem ter. Isso porque só vêem impiedade
quando a palavra é manifestamente vituperada ou menosprezada.
Pos bem, seja o que for essa forma de receber o evangelho, este não penetra o coração para
ali se fixar. E, embora às vezes pareça fincar raízes, não obstante estas não são vivas. Assim
é o coração humano, cheio de vaidade, com os mais diversos esconderijos de mentiras!
Acha-se envolto em tanta hipocrisia que se engana a si mesmo. [1536] Mas, tomara aqueles
que se gloria em tal simulacro da fé entendam que em nada são superiores ao Diabo neste
aspecto (Tg 2.19).
[1539] Certamente, os primeiros dos quais falamos são muito inferiores, visto permanecem
desatentos, apesar de ouvirem coisas que fazem tremer os demônios. Nisto os outros são
parecidos, pos o sentimento que eles têm acabam finalmente em terror e angústia
4. A verdadeira fé cristã²
Diferentemente, a verdadeira fé cristã, a única que de fato merece ser chamada fé, não se
satisfaz com um simples conhecimento da história, e se estabelece no coração do homem,
limpando-o do corante, da ficção e da hipocrisia que o cobriam, e ocupando-o de tal
maneira que não há o que desaparecer levianamente.
Primeiro, para podermos entender a sua força e a sua propriedade, é preciso que tenhamos
o cuidado de recorrer à Palavra de Deus, com a qual ela tem tal afinidade e correlação que
não poderá ser bem avaliada fora dela. [1536] Porque a palavra é como se objeto e sua
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meta, pelo que a fé deve estar perpetuamente atenta incerta e um erro flutuante. [1536] A
mesma Palavra é também o fundamento em que a fé se sustém e se apóia, e, se for retirada
desse fundamento, imediatamente cai. [1539] Se a Palavra for retida, não restará fé.
Nota:
¹ Leia o credo apostólico em
http://www.teuministerio.com.br/BRSPIGBSDCMCMC/vsItemDisplay.dsp&objectID=CF641E62-F9AD-48C0-
9E4755448BDD87AB&method=display
² “[Fé] É um conhecimento firme e certo da vontade de Deus concernente a nós,
fundamento sobre a verdade da promessa gratuita feita em Jesus Cristo, revelada ao
nosso entendimento e selada em nosso coração pelo Espírito Santo.” (As Instituas, III 2.7)
Aqui são apenas as quatros primeiras páginas do capítulo IV da Institutas – Edição
especial. Calvino continua a desenvolver este assunto Maravilhosamente nas páginas
seguintes explicando cada ponto do Credo Apostólico. Compre este maravilhoso livro em
http://www.cep.org.br de seqüência a leitura.
Autor: João Calvino
Fonte: As Institutas da Religião Cristã, edição especial, ed. Cultura Cristã, Vol 2, pg 5-8

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